quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Mensagem para os autores brasileiros de mangá

Uma breve introdução

Me chamo Robson (vulgo SKY) e sou desenhista de mangá por hobby. Durante esses anos tenho acompanhado assuntos sobre fanzineiros e desenhistas brasileiros de mangá. Já fui em eventos, vi os caras de perto, li e analisei os fanzines. Diria que não sei tudo, apenas o bastante para um veredicto.

De fanzineiro para fanzineiro, vou tentar ser o mais claro e objetivo o possível.

Primeiro: você não vai ganhar a vida só desenhando mangás no Brasil. Aliás, dificilmente vai ganhar algo com isso. Desde a invasão dos mangás japoneses em meados de 2000, nossas chances de consolidar um mercado (que não seja monopolizado) são praticamente nulas, a não ser que a procura por material estrangeiro cesse ou que editoras que licenciam mangás decidam nos apoiar, se prejudicando no processo.

Segundo: mesmo se fosse viável, não teríamos como manter isso, já que para concorrer com eles teríamos que conciliar qualidade com produtividade. Qualidade que digo não é só um desenho bonito. Engloba outras coisas, como habilidade narrativa e criatividade. E não temos tudo isso. Basta comparar o mangá brasileiro e o japonês lado a lado. Eles conseguem a proeza de serem melhores, mesmo aqueles tecnicamente piores.

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Sobre os novos fanzineiros sonhadores


É legal ver novos talentos, mas é muito errado quando alimentam falsas esperanças e pregam utopias enquanto inflam os próprios egos. Isso não é Bakuman, amigos.

Tem planos para desenhar no Japão? Está mesmo disposto a abrir mão da sua vida pessoal e social, ser mal remunerado e se escravizar por uma nação xenofóbica que dificulta a entrada de estrangeiros em seu país e em seu mercado? Tente primeiro emular a rotina de um mangaka japonês seguindo seu cronograma e finalizando ao menos um mangá com mais de cem páginas a curto prazo e vai entender o que digo.  Depois conversamos sobre  desenhar uma série regular num país onde a concorrência é absurda.

Não preciso falar muito das dificuldades de quem perdeu seu tempo expondo seu fanzines em eventos daqui. O lucro é mínimo e muitas vezes não compensa toda a dedicação, tempo e dinheiro investidos. Isso para não falar em descaso com os autores e material encalhado.

Que tal refazer a sequência, mudar diálogos ou cortar cenas daquele seu trabalho do coração? Fanzineiros são chatos na questão de edição (ou de críticas). Mesmo sendo capazes  de trabalhar profissionalmente num  mangá brasileiro/nacional, teriam que ter flexibilidade e paciência  com as editoras. Teriam que desapegar de suas crias.

Caso queira trabalhar com mangá no Brasil, ilustrador freelancer é o que há. Seja para empresas ou em sites como o DeviantArt. Com quadrinhos, esqueça.

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Sites de financiamento coletivo


Nunca apoiei o financiamento coletivo de fanzines. Não é um investimento com uma finalidade. Você banca o fanzineiro e tempo depois ele lança outra campanha, sem nenhum processo de evolução ou continuidade. É um círculo vicioso em que muitas vezes bancam artistas somente para incentivar, mesmo sem curtir o trabalho. Concordo que como plataforma alternativa é excelente, mas essa ideia precisa de planejamento. E aí, o que você vai fazer depois de ser bem-sucedido na sua campanha? Preparar os brindes da próxima? Boa ideia. Continue assim, até ficarem de saco cheio de colaborar com propostas de qualidade duvidosa.

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Conclusão


Cheguei a comentar em outro lugar sobre a necessidade de acabar com os autores zumbis que seguem cegamente um ideal sem pesquisar. Espero que esse texto ajude em suas decisões e abra os seus olhos, porque é um desperdício de vida lutar por algo que não existe. A não ser que seja por amadorismo.

O Google está aí para formar opiniões e facilitar decisões assertivas. Basta pesquisar.

10 comentários:

  1. Sabe o que o povo precisa? Parar de querer ser amador e querer ser profissional.
    Isso inclui saber pesquisar na net, treinar todo dia, melhorar técnica...
    Sem parar, pelo amor de Deus!
    Olha isso:
    https://medibang.com/book/1c1707071859405160000232278

    É a HQ de um conhecido da França. Ele faz tudo sozinho. HQ com desenho bom, 42 páginas.
    Aqui no Brasil tenho que aturar tranqueira mal desenhada com menos páginas.
    E nem vou entrar no mérito da galera que entra em "hiato" (às vezes, nem hiato é, o cara que abandona a obra mesmo!).
    Enfim, é difícil cara.
    Até mais!

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    1. Tomando vergonha na cara pra responder isso só agora... há quanto tempo, The Fool! Já não consigo mais acessar o link do conhecido, mas pelo visto é bom mesmo. É aquilo que eu comentei antes, varia de pessoa para pessoa.. se tem boa infraestrutura desde a infância, bons alicerces, as chances de dar certo são muito maiores. Infelizmente a maioria dos desenhistas br que quer fazer quadrinhos são tudo uns fudidos (e eu me incluo nisso rs) e daí chega a vida adulta e a coisa toda desanda num misto de sucessão de fracassos com falta de tempo. Sempre me lembro da frase "Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes". É difícil trabalhar sozinho, mas trabalhar equipe nos dias atuais talvez seja a saída. Acho que é possível, dividindo as tarefas. Eu mesmo penso na possibilidade de tentar pelo menos finalizar uma história, nem que seja rascunho mesmo, para alguém terminar futuramente. Valeu, man! Inté!

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    2. Caracas Sky, por onde tu andou? As coisas parece que melhoraram, sabe?

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    3. Estava em busca do autoconhecimento rss Mas melhoraram como? Ganhou na loteria? Estou mais ativo no Twitter, agora.

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    4. Assim, a JBC tirou o escorpião do bolso, pro bem e pro mal, Newpop começou uma nova fase de publicações nacionais e a Panini tá fazendo de conta que não é com ela!

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  2. Eu cresci desenhando e lendo quadrinhos e até sonhava em publicar os meus um dia. Mas aí a realidade bate né. Faculdade, estágio, e atualmente trabalho. Preferi seguir a via sensata e só desenhar no tempo livre. Talvez eu publique algo independente, mas não vou morrer se não publicar.
    Minha formação na faculdade foi algo que hoje me dá um bom sustento, eu que não sou besta de me formar em design pra ganhar migalhas sendo ilustrador freelancer na internet.
    Esse negócio de "siga seus sonhos" é papo furado e, muitas vezes as profissões dos sonhos são mal remuneradas ou incertas, tipo fazer quadrinhos. rs
    Meu conselho, se é que alguém vai ler isso, é vir pra realidade e achar uma profissão segura. Se você tiver tempo livre, pode publicar algo independente na Amazon, Line Webtoon e similares. Mas já ponha na cabeça que você não será o próximo Mauricio de Sousa (que por acaso também tem tido uma queda na venda dos gibis)

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    1. Tem toda a razão, seja sempre "pé no chão", tenha um trabalho e deixe o desenho em segundo plano, se necessário (Estou assim, agora). Se bem que depende muito de pessoa para pessoa. Conheço desenhistas que se dão bem com ilustras, tem um bom networking, MAS é porque lá atrás tiveram boa infraestrutura familiar, boa educação, oportunidades, Q.I. (quem indica mesmo) e me arrisco dizer que envolve muito a questão de hereditariedade, que pode abrir portas. Como é o caso de tal desenhista, descendente de japoneses, que nem desenha tão bem assim mas que é estimada por ser quem é e ter ótimos contatos. Claro, se o desenhista não se der bem com quadrinhos e não faturar com ilustras, pode ser professor em escola de mangá... ou passar o resto da vida pedindo dinheiro em sites de financiamento coletivo, argumentando que precisa realizar seu sonho/ consolidar sua "carreira" (o tal especialista em explorar a boa fé alheia). Obrigado pela visita, anônimo! :)

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  3. Eita, e a ai Sky, há quanto tempo. Aqui é o Helvecio (talvez ainda se lembre). Cara tu literalmente desapareceu! Tipo... De tudo. Eu literalmente te achei aleatoriamente. ^^'
    Acho uma grande pena você ter sumido por que seu trabalho era muito legal e você tambem era muito gente fina e sempre quis que visse o meu trabalho atualmente que ainda sigo com meu hobby.

    Bem, se ver esse comentário eu realmente queria saber se ainda tem alguma rede social e etc. Enfim... Inté...

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    1. Helvecio! Quanto tempo, cara! Bom te encontrar por aqui. Já te encontrei no Twitter. :D

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  4. Para os que acham que exagerei sobre a questão da xenofobia, é só pesquisar na pesquisa do YT "xenofobia japão". Divirtam-se

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