Me chamo Robson (vulgo SKY) e sou desenhista de mangá por hobby. Durante esses anos tenho acompanhado assuntos sobre fanzineiros e desenhistas brasileiros de mangá. Já fui em eventos, vi os caras de perto, li e analisei os fanzines. Diria que não sei tudo, apenas o bastante para um veredicto.
De fanzineiro para fanzineiro, vou tentar ser o mais claro e objetivo o possível.
Primeiro: você não vai ganhar a vida só desenhando mangás no Brasil. Aliás, dificilmente vai ganhar algo com isso. Desde a invasão dos mangás japoneses em meados de 2000, nossas chances de consolidar um mercado (que não seja monopolizado) são praticamente nulas, a não ser que a procura por material estrangeiro cesse ou que editoras que licenciam mangás decidam nos apoiar, se prejudicando no processo.
Segundo: mesmo se fosse viável, não teríamos como manter isso, já que para concorrer com eles teríamos que conciliar qualidade com produtividade. Qualidade que digo não é só um desenho bonito. Engloba outras coisas, como habilidade narrativa e criatividade. E não temos tudo isso. Basta comparar o mangá brasileiro e o japonês lado a lado. Eles conseguem a proeza de serem melhores, mesmo aqueles tecnicamente piores.
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Sobre os novos fanzineiros sonhadores
É legal ver novos talentos, mas é muito errado quando alimentam falsas esperanças e pregam utopias enquanto inflam os próprios egos. Isso não é Bakuman, amigos.
Tem planos para desenhar no Japão? Está mesmo disposto a abrir mão da sua vida pessoal e social, ser mal remunerado e se escravizar por uma nação xenofóbica que dificulta a entrada de estrangeiros em seu país e em seu mercado? Tente primeiro emular a rotina de um mangaka japonês seguindo seu cronograma e finalizando ao menos um mangá com mais de cem páginas a curto prazo e vai entender o que digo. Depois conversamos sobre desenhar uma série regular num país onde a concorrência é absurda.
Não preciso falar muito das dificuldades de quem perdeu seu tempo expondo seu fanzines em eventos daqui. O lucro é mínimo e muitas vezes não compensa toda a dedicação, tempo e dinheiro investidos. Isso para não falar em descaso com os autores e material encalhado.
Que tal refazer a sequência, mudar diálogos ou cortar cenas daquele seu trabalho do coração? Fanzineiros são chatos na questão de edição (ou de críticas). Mesmo sendo capazes de trabalhar profissionalmente num mangá brasileiro/nacional, teriam que ter flexibilidade e paciência com as editoras. Teriam que desapegar de suas crias.
Caso queira trabalhar com mangá no Brasil, ilustrador freelancer é o que há. Seja para empresas ou em sites como o DeviantArt. Com quadrinhos, esqueça.
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Sites de financiamento coletivo
Nunca apoiei o financiamento coletivo de fanzines. Não é um investimento com uma finalidade. Você banca o fanzineiro e tempo depois ele lança outra campanha, sem nenhum processo de evolução ou continuidade. É um círculo vicioso em que muitas vezes bancam artistas somente para incentivar, mesmo sem curtir o trabalho. Concordo que como plataforma alternativa é excelente, mas essa ideia precisa de planejamento. E aí, o que você vai fazer depois de ser bem-sucedido na sua campanha? Preparar os brindes da próxima? Boa ideia. Continue assim, até ficarem de saco cheio de colaborar com propostas de qualidade duvidosa.
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Conclusão
Cheguei a comentar em outro lugar sobre a necessidade de acabar com os autores zumbis que seguem cegamente um ideal sem pesquisar. Espero que esse texto ajude em suas decisões e abra os seus olhos, porque é um desperdício de vida lutar por algo que não existe. A não ser que seja por amadorismo.
O Google está aí para formar opiniões e facilitar decisões assertivas. Basta pesquisar.